14 outubro 2011

Dmitri Shostakovich - Sinfonia 11 - O Ano de 1905

Não podia deixar de um dia falar desta obra simplesmente extraordinária. O russo Shostakovich, que me faz lembrar muito Tchaikovsky; na verdade, ao ouvi-lo, penso que seria o Tchai no modernismo. Acho que em ambos, se predomina muito a cultura Russa, algum tipo de frieza estética muito peculiar dos compositores siberianos. Bem faço aqui, algumas impressões que tive da sua sinfonia 9.

1º Mov – Palace Square
O inicio, uma ideia sombria, ao mesmo tempo fria, como uma névoa; estamos na Rússia, e ali, estamos vendo as cidades, a cultura Russa, há certa beleza, mas há uma atmosfera sempre presente, pelas harmonias atonais das cordas nos dando claramente a idéia “há algo estranho acontecendo”; algum tipo de ‘conspiração’, algum tipo, de censura, parece que o povo anda calado, há certo medo, há´algo acontecendo. Vai surgindo ideias bélicas, uma marcha (de inicio em pontos distantes, escondidos, ocultos, mais vai se tornando mais presente com o tempo), manifestações (tímpanos)... começa haver reflexões, diálogos entre pessoas sobre isso (duetos das flautas). Trompetes em surdina trazem uma manifestação, é uma voz em meio ao silêncio se manifestando. Tensões vão surgindo e crescendo; um ar mais intenso dessas tensões, intrigas, manifestações, vão sendo exibidas nos diálogos das madeiras. Vai ficando evidente, e chega uma hora que some aquela ‘névoa’ das cordas, agora as coisas já não estão mais tão ocultas. Um senso de liberdade sendo massacrada. O movimento encerra com a clara ideia que as coisas se resolveram de modo ruim; logo, algo muito ruim estaria para acontecer.

2º Mov. – 9 de Janeiro (O Domingo Sangrento)

Os inimigos chegam, a movimentação das tropas, e o conflito, a brava luta, e a forte resistência, extremamente tenso. É sanguinário, impiedoso! Aos 15min. ocorre a abrupta mudança para a calada e o silencio frio, enquanto caem flocos de neves e poeira (trompete com surdina relembra tema do mov. 1), é o fim de uma batalha/conflito, com um alivio, um silencio que torna de repente, em meio a nevoa e a escuridão talvez, mas o clima tenso ainda continua, você olha no horizonte ainda em vigilância, procurando talvez que mais inimigos surjam para atacar repentinamente, ou tentando enxergar algum movimento, pois parecem estarem camuflados pela neve, em meio há uma paisagem cheia de corpos mutilados e fuzilados no chão. É um silêncio angustiante que vai se mantendo até encerrar o movimento. Enquanto se ouve ainda alguns sons ao longe de movimentos militares, tiros e explosões, em meio a uma paisagem já destruída, desfigurada pelo conflito. É um silêncio que fede a tristeza da morte.

3º Mov. – Eternal Memory

O terceiro movimento me intriga muito, dá para saber se é uma continuação do conflito do 2º movimento, ou se é uma lembrança do ocorrido, da revolução em andamento; ou então, uma lembrança, intensa, angustiante, como um pesadelo; ou que então, de repente, a conflito começa novamente. Se percebe claramente a critica do autor, Shostakovit, qual não tem NENHUMA apreciação pela barbaridade, que ocorreu, é quase como se estivesse compondo às lágrimas, o que faz suar como uma grande critica, nos afligindo com uma FRIAZISSIMA introspecção sobre o desumano, a barbaridade, a morte, o oposto da paz, algo qual nunca se reverenciar, mas por qual sempre haverá lágrimas de uma memória triste. Ao mesmo tempo, não nega e consolida a grandeza e importância do evento, que ficará marcada para a História.

4º Mov. –The Toscin

Não sei dizer ao certo. Mas este movimento me parece ser a acessão de um novo poder, a tomada do poder, a revolução se efetivando, de forma bem trágica, dramática. Mas todas as vezes que vejo os estacatissimos dos metais com bumbo, e o som da caixa bem seco, me faz pensar que está acontecendo tiros. Por outro lado, parece ser, é o que me lembra, a coração do Dearth Vader do Star Wars, é isso o que me parece, a imposição, o diminio de uma Ditadura, um poder frio e malvado, do lado negro da sombra; é de congelar o coração do povo, dos cidadãos; congelar é pouco, literalmente, desmaiam; e ninguém mais sabe o que será do futuro, é tudo incerteza, pânico, revolta, um tremendo caos civil e cultural; é tão frio quanto o ateísmo pode ser. É isso, é uma música ateia, friamente ateia, sem nenhum resquício de espiritualidade e virtuosas introspecções que contem algum tipo de senso de belo, pureza, certo. Aqui é o antônimo! Por volta dos 8 min. e pouco.. há uma quebra... abrupta, voltando aquele sinistro silêncio que vemos no inicio do 1º movimento, crescendo agora já com uma característica de releitura, ou recordação do que aconteceu. Por volta dos 11 e meio as madeiras começam a puxar um acintoso ritmo furioso, já sem o caráter bélico, mostrando as rápidas mudanças, a imposição, uma força potente, qual deixa a todos (creio que o eu lírico aqui, ou o herói da história, é ‘o povo’, o a música trata da perspectiva e sentimento do povo), sem nada poder fazer. E então, os metais surgem proclamando e anunciando a “coroação do novo poder”, é tremendo, é uma mão de ferro impiedosa, cheia de terror, e uma imagem austera e poderosa, pois aliás, a Rússia é uma grande nação. É um Dearth Vader que subiu ao trono. E assim a música encerra com esse drama; sem nem mesmo precisar discursar ou provar que é algo terrível, todos tem consciência disso.

Considerações finais
Eu não li nada sobre esta composição, não pesquisei nada antes de ouvi-la e escrever as palavras acima. Apenas depois, eu fui ver o que tinha acontecido no dia 9 de Janeiro de 1905, que eu não lembrava; mas já tinha uma ideia na mente, de alguma coisa a ver com o Socialismo Soviético, ou a Revolução Russa. Foi ai que então, que ao pesquisar, lembrei do "Domingo Sangranto", que mataram vários manifestantes. Bem, o último movimento me deixou muito intrigado, pois eu não consigo ver uma idéia de favor, da parte de Shostakovich para o que aconteceu, ou para a Revolução, ou para os seus resultados; eu apenas vejo uma grande e intensa crítica. Mas no final, fiquei em grande dúvida, não sei se é uma critica ao Estado, ao Governo, ou ao Povo, ou aos Revolucionários; ou a todos. Não consegui deduzir isto. Por outro lado, apesar de ser uma obra musical incrível, extraordinária, eu não consigo ver muita 'poesia', uma música que tem um caráter transcendente, não vejo uma ambição artística; apenas algo mais voltado para o Realismo, no sentido, de fazer uma música, como um 'filme', está apenas contando a História.

Bem, mas acho que teria que estudar melhor a obra, e o autor (que conheço muito pouco), para poder dar mais detalhes, e ser mais preciso. Todavia, recomendo muito a audição dessa obra, com muita atenção e muito volume para observar os detalhes; é uma obra titãnica, em todos os aspectos técnicos e orquestral que se pode imaginar.

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