27 julho 2011

Anton Brucker, Deus e Sua Música

"O verdadeiro amor de Anton Bruckner era o seu "querido Deus". O homem capaz de interromper uma aula, no Conservatório de Viena, na hora do Ângelus, para se ajoelhar no meio da sala e rezar, tinha nesse Deus uma crença instintiva, sólida, enraizada no mais profundo de sua formação como ser humano. E é em sua música que se traduz a profundidade visionária de suas meditações - aqueles momentos em que estava em contato com o mundo da transcendência espiritual, cuja realidade nunca questionava. Desse mundo provinham a serenidade diante dos revezes e a força renovada que investia em sua arte criadora. Um místico numa era cada vez amis profana, Anton Bruckner tinha uma espiritualidade que era a mola mestra de sua arte.

(...)

... A força da música estava impregnada daquele poder místico que lhe dava a coragem de superar a depressão; e não é por outro motivo que a Quinta Sinfonia foi chamada de Glaubenssymphonie (a Sinfonia da Fé).

Comentário de Constantin Floros:

'Embora respeitasse muito a tradição e tirasse partido do conhecimento que lhe era fornecido pela "ciência musical", Bruckner alinhava-se com aqueles que acreditavam na importância primordial da expressão na música. Ele próprio escreveu a Franz Bayer, o diretor do coro em Steyr, que "o contraponto não é o fim em si, mas o meio para chegar a um determinado fim". Na teoria da literatura, estamos acostumados a diferenciar o autor "subjetivo" do "objetivo". Se transferirmos essas categorias para a História da Música, podemos caracterizar Bruckner como um compositor "subjetivo" que sempre criou a partir da necessidade profunda de se expressar. Ao contrário de muitos outros compositores, ele não se mantinha à distância de sua obra, mas identificava-se com ela. Portanto, cometemos uma injustiça em relação à sua música se a classificamos de "cósmica" ou se ignoramos ou banalizamos a quantidade de informação pessoal nela incorporada. Johann Wolfgang Goethe disse de sua própria obra que ela era "uma série de fragmentos de uma confissão mais ampla". Não seria exagero afirmar que isso também pode ser dito incondicionalmente da música de Anton Bruckner.'"

O Menestrel de Deus - Vida e Obra de Anton Bruckner, p. 177 e 180

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